Tese de mestrado em Biologia da Conservação, apresentada à Universidade de Lisboa, através da Faculdade de Ciências, 2015 ; Nos trópicos, o acréscimo da desflorestação está a originar paisagens compostas por fragmentos de pequenas dimensões de floresta natural (floresta primária) circundada por uma matriz de habitat modificado. A sazonalidade nos trópicos é marcada por diferenças na precipitação, sendo que estas diferenças entre a estação seca e húmida podem levar a alterações na produtividade primária, no crescimento e nos padrões de frutificação e floração de algumas plantas tropicais. Estas mudanças na produção primária podem provocar oscilações na disponibilidade de recursos, afetando a presença e a abundância não apenas de espécies frugívoras e nectarívoras, mas também de espécies insectívoras. Quando a sazonalidade atua conjuntamente com a fragmentação, os impactos da última sobre a biodiversidade podem ser agravados. Isto acontece porque as flutuações naturais na disponibilidade de recursos podem ser alteradas tanto por diferenças nas condições microclimáticas nas bordas dos fragmentos como pela matriz de habitat modificada ação humana. Adicionalmente, a fragmentação pode ainda impedir migrações sazonais e diminuir o acesso a recursos essenciais, impedindo o acesso a recursos (alimento e abrigo) necessários durante e.g. as épocas de reprodução. Os morcegos são considerados um grupo de grande interesse para o estudo dos impactos da fragmentação nos Neotrópicos, este facto deve-se à sua grande abundância, riqueza específica, diversidade ecológica, mobilidade e importância como bioindicadores. O voo dota os morcegos de uma maior capacidade de deslocação em paisagens fragmentadas do que outros grupos faunísticos menos móveis. No entanto, devido a diferenças nas características biológicas e ecológicas entre espécies, as respostas a estas perturbações são muito variáveis. Estas diferenças interespecíficas, i.e. nos hábitos alimentares, são afetadas pela sazonalidade, influenciando a forma como diferentes espécies respondem às características de composição e configuração da paisagem e à estrutura da vegetação ao nível local. Apesar de muitos estudos já terem averiguado os impactos da fragmentação ao nível da população e da comunidade nos Neotrópicos, poucos foram realizados ao longo de grandes períodos, e consequentemente as variações sazonais nas respostas dos morcegos foram raramente consideradas. Neste estudo avaliámos como diferentes espécies de morcegos respondem à sazonalidade numa paisagem caracterizada por fragmentos de diferentes tamanhos e circundados por uma matriz de floresta secundária em diferentes estágios sucessionais. Recorrendo a dados de dois anos de capturas, averiguámos como é que padrões gerais da abundância de diferentes espécies de morcegos variam entre a estação seca e húmida nos fragmentos, na matriz de floresta secundária e em áreas de floresta contínua. Para além disto, analisámos a influência da estrutura da vegetação (métrica de escala local), e das métricas da composição e configuração da paisagem (para cinco escalas espaciais) na abundância de oito espécies de morcegos. Testámos também se a importância das métricas variava entre as estações. O estudo foi realizado no Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), Amazónia Central, Brasil. Os morcegos foram capturados durante dois anos em oito fragmentos e nove áreas de controlo. Em cada categoria de habitat foram amostrado o interior, a borda e a matriz. As métricas da paisagem foram obtidas para a área do PDBFF, tendo sido utilizados buffers de cinco tamanhos diferentes (250, 500, 750, 1000, 1500m de raio) em cada um dos 39 locais de amostragem. Para cada uma dos buffers foram calculadas quatro métricas de composição: cobertura da floresta primária, coberturas da floresta secundária – estágio inicial (6