A representação da velhice como 'problema social', na sociedade de hoje, constitui uma frequente imagem distópica, como uma fase da vida em que as possibilidades de uma identidade pública parecem diminuídas e que impõe, por outro lado, grandes necessidades de apoio e de recursos. Esta imagem de uma velhice deficitária não tem em atenção, porém, frequentemente, a pluralidade de vivências e de significados, em relação à forma como diferentes contextos sociais e históricos representam esta fase do ciclo de vida e que, no mundo de hoje, se encontra, de resto, em profunda transformação e marcada por uma bipolaridade entre imagens opostas. Em contraposição com as representações distópicas, na verdade, novas retóricas e novos eufemismos desenvolvem uma visão mais utópica, por assim dizer, da velhice, no quadro dos políticas de alargamento do tempo da vida produtiva, como resposta ao próprio envelhecimento demográfico. Neste artigo, proponho dar conta destas (des)construções da velhice que, analiticamente, implicam a clarificação de quem é velho nas nossas sociedades, indo para além dos limites críticos da persuasão simplista, segundo a qual a velhice é um conceito fácil de operacionalizar, isto é, 'que tem apenas uma dimensão (cronológica) e um indicador (idade)' (Quivy e Campenhoudt 1998: 122).