Estudos que relatam a ligação entre abuso de animais e violência interpessoal são escassos no Brasil, onde a violência doméstica atingiu proporções epidêmicas nas últimas décadas. Este estudo transversal incluiu dados de 351 mulheres vítimas de violência doméstica recebidas em uma delegacia especializada na cidade de Belo Horizonte, Brasil, entre novembro de 2019 a fevereiro de 2020. Para análise dos fatores de risco, dois modelos logísticos foram ajustados: um respondendo à presença de abuso de animais e outro à presença de violência contra os filhos das vítimas. A vítima ser tutora do animal (OR 2.85, IC95% 1.17 – 7.69), a vítima ter sofrido assédio moral (OR 2.56, IC95% 1.02 - 7.02) e o consumo de álcool (OR 3.26 IC95% 1.47 - 7.52) no ambiente domiciliar, foram fatores de risco encontrados para a ocorrência de abuso contra animais. A existência de uma relação conflituosa dos filhos da vítima com o autor (OR 4.08, IC95% 1.79 -9.71), o consumo de drogas e álcool (OR 2.85, IC95% 1,27 – 6.67) e a vítima ser ex-cônjuge do autor (OR 3.92, IC95% 1.70 - 9.51), foram fatores de risco para violência contra os filhos das vítimas. O estudo fornece evidências de que os vários tipos de violência doméstica que as mulheres sofrem estão significativamente associados à violência contra animais de estimação, crianças e adolescentes, especialmente a violência psicológica e física. Diante disso, este estudo indica que estratégias para prevenção e controle da violência doméstica devem ocorrer de maneira multidisciplinar, proporcionando uma abordagem de Saúde Única.