Universidade Estadual de Maringá, Psicologia em Estudo, (23), 2018
DOI: 10.4025/psicolestud.v23i0.37614
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As comunidades terapêuticas têm sido um dispositivo muito utilizado para o tratamento de pessoas que fazem uso problemático de drogas. Este estudo teve como objetivo compreender os sentidos construídos sobre a internação em comunidades terapêuticas por pessoas que passaram por estas instituições. Estudo qualitativo, descritivo, com referencial teórico construcionista social. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com dez indivíduos que passaram por internações. Com a técnica de análise temática foram construídos três temas: 1) rede de atenção psicossocial e os espaços de reclusão, que aborda as restrições vividas ao longo de todo processo de internação nas CTs, e destaca alguns repertórios utilizados para se referir ao tratamento nesta; 2) a naturalização da reclusão como ideal de cuidado, tema que discute como as CTs e o distanciamento social são construídos como percursos inevitáveis para as pessoas que fazem uso de drogas, naturalizando processos de violações de direitos que ocorrem e as possibilidades de cuidado oferecidas; 3) o que resta depois da reclusão, tema que trata da complexidade relacionada à saída da internação e os desafios ampliados pelo despreparo das instituições e da ausência de uma rede de apoio que auxilie no processo. Apesar das CTs serem descritas como espaço de reclusão e de punição e dos desafios encontrados pelos usuários após a internação, o tratamento é naturalizado como percurso inevitável na vida do usuário de drogas. O uso problemático de álcool e outras drogas é um campo de muita complexidade (social, saúde, cultural e econômico), o foco em modelos de internação longa tem propiciado diferentes formas de exclusão e violações, ao mesmo tempo em que desinvestem em práticas que abranjam a complexidade da questão.